sexta-feira, 12 de março de 2010

Canção

No desequilíbrio dos mares,

as proas giram sozinhas...

Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos

sem desespero e sem desgosto,

e morri de infinitas mortes

guardando sempre o mesmo rosto.

Quando as ondas te carregaram

meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento.

Cecília Meireles

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